18.4.13

Zoológica

tem uns pato, vo tê contá meu
de fôdê
só qué sabê de ganhá cômida
trabalhá qué bom pato não qué!
daí eu é que págo o impôsto
pra páto vagabundo vivê encostado
etc., etc.

3.4.13

Espreguiçadeira

Daí quando deito
não sobra dúvida
de que entre mim
e a espreguiçadeira
o preguiçoso sou eu

22.1.13

Carro alegórico

A geringonça pimponeia
uma filosofia aflita:

Vão cabeças de laços 
cocares de corpos idos
com coroas de crinas
e pernas de braços
tudo, todos de purpurina

O carro balança
sempre muito pesado
o motor também são
de pernas e braços
de empurradores anônimos

(Só nisso o carro já se encheu de alegoria)

O ferro pesa, mas nunca sozinho
Nossa alegria encanada mal se segura
de poder ser de repente tudo aquilo
e ao mesmo tempo

Vem samba enredo também
dar história pra gente
contexto
propósito

A bateria fabrica a vontade cardíaca
tudo se esforça
toda alma se dobra
por alguns minutos

Nosso instante de "tudo é possível" sobrou formatado

Em desfile cronometrado
seguido de morte mansa
em fim de avenida

18.12.12

Mercado poético mundial

Na contramão da saudade


inventei uma distância

que não apartava



No lugar disso: horizontava

que é um troço poético

diferenciado



Ao menos assim descreveriam
meu advento contramétrico

no mercado poético mundial

que eu mesmo fundei

dentro desta poesia

para fins de comercializar

o imprecificável

20.9.12

Qualquer dia de inverno


Saiu coberta de casa

Voltou imunda de mundo

11.9.12

Cimento fresco

Com cimento fresco
bastou engano
os pés afundam

Se for grande a fundura
o antigo verniz
acaba cimentado

O cidadão
fica
plantado
confundindo

com calçada
mas é um instante

Calcula rota de fuga
pisa o chão firme
segue caminho

Em casa vai
engraxar
e polir
os sapatos antigos
pela primeira vez em anos

Seu passear descuidado
marcou a epiderme da cidade
que não sente remorso
tampouco se lembra
do antigo remanso
de si mesma

A ela
no entanto
não será dada
(talvez nunca!)
semelhante liberdade:
de transcrever neste homem
o enorme passo de uma cidade

14.8.12

Foneticamente falando

há um soluço na palavra 'milagre'

primeiro a exaltação de 'mi' pra 'la':
em que a tônica é alçada ao céu da boca
por força fonética maior

logo em seguida,
decimal de segundo,
o pequeno abismo:
oclusão entre o 'la' e a lingua
em que nem o ar fala

da expectativa mal se ergue o 'gre':
subpronunciado
pedrinha de garganta
sem revelação
onde a verdade mora